O ventre marca a estréia de carlos heitor cony como romancista
Escrita em 1955, a obra participou de um concurso oficial e, segundo a comissao julgadora ? composta, entre outros, por carlos drummond de andrade e manuel bandeira ?, tratava-se de um livro "extraordinário", mas que nao poderia ser premiado por ser forte demais para os padroes da época
Em 1958, foi finalmente publicado pela civilizaçao brasileira
Hoje, cinqüenta anos depois de seu lançamento, em sua 12ª ediçao, o ventre continua a ser um livro surpreendente, um romance fundamental da literatura brasileira do século xx
Narrado em primeira pessoa ? marca que o autor repetiria mais tarde, em outros romances ?, o livro conta a história de josé severo, um jovem que nao consegue se encaixar no meio em que nasceu e cresceu
Despreza o pai e é desprezado por ele, sente-se ofuscado pelo irmao mais novo e rejeitado pela amiga de infância por quem se apaixonou e quem continuará amando até o fim
Após a morte da mae, descobre que é filho bastardo e se afasta de todos, levando uma vida solitária na qual a amargura impede o desespero
Influenciado pelo existencialismo francês, o ventre também revela o estilo machadiano de cony: "no prefácio à oitava ediçao do romance, o autor explicita sua proximidade com o universo da ficçao machadiana, atribuindo ao mestre a herança de certo sentimento amargo e aspero", escreve raquel illescas bueno, professora de literatura brasileira da universidade federal do paraná e doutora em letras pela universidade de sao paulo, que analisa em sua tese de doutorado as coincidências que aproximam os romances o ventre e dom casmurro
Para ela, cony e machado dividem uma mesma visao de mundo cética, relativista, a partir da qual traçam a história dos "subúrbios que todo homem carrega dentro de si".