Depois de dar voz às mulheres chinesas em as boas mulheres da china, a jornalista xinran lança-se ao ambicioso projeto de transmitir para as geraçoes mais jovens e "ocidentalizadas" de seu país a experiência dos "avós" da china moderna
Para elucidar a formaçao da china contemporânea, xinran foi em busca de homens e mulheres comuns que estao hoje com mais de setenta, oitenta anos (um deles tinha 97 e havia participado da grande marcha de mao tse-tung), das mais diversas regioes e de diferentes estratos sociais, e que sobreviveram à miséria e à fome, à invasao japonesa e à revoluçao, aos desastres do grande salto adiante e às perseguiçoes e humilhaçoes da revoluçao cultural para chegar à modernizaçao e ao espantoso crescimento econômico do início deste século
Nao foi fácil obter depoimentos francos e espontâneos, pois os chineses têm uma longuíssima tradiçao de nao falar aberta e honestamente sobre o que pensam e sentem, temerosos (com razao, como mostram algumas entrevistas) de que isso possa prejudicar nao somente a eles, mas a todos os seus parentes e descendentes
Mas apesar dessa dificuldade, a autora conseguiu reunir duas dezenas de histórias reveladoras da vida cotidiana, dos sentimentos e ideais, das dores e alegrias, da fibra e coragem, da resistência física e fortaleza de espírito da geraçao dos chineses que viveram sob o domínio de mao
Entre as testemunhas, estao desde artífices que fazem as lanternas tradicionais, uma curandeira que vende ervas, um ex-saqueador da rota da seda e um pregoei-ro de notícias de casa de chá (lembrança de um tempo em que todos eram analfabetos), até geofísicos que construíram a indústria petroleira chinesa, uma mulher general (nascida nos estados unidos), um casal que passou privaçoes indescritíveis na transformaçao econômica do deserto de gobi, um policial desencantado com a profissao e, evidentemente, taxistas, que também na china constituem fonte preciosa de informaçoes
Num país em que a história recente está envolta em tanta bruma, esses relatos orais respondem um pouco ao apelo que a autora faz no final do livro: "por favor, pensemos e trabalhemos por menos escuridao e odio
Somente a luz e o brilho da compreensao podem destruir as trevas".