Cecília é uma secretária competente. depois que seu patrão sai do consultório dentário ela guarda todo o equipamento, desliga os aparelhos, tranca a porta e vai embora
Doutor marcos é um homem tranquilo, e o trabalho com ele é sem sobressaltos. hoje ele e a mulher vão jantar em casa de amigos
Fato raro, pensa a secretária
Em geral, doutor marcos e a mulher ficam em casa
Estranho, para um casal jovem como eles cecília gosta de trabalhar no consultório. tudo é sempre tão previsível que ela jamais poderia imaginar que no dia seguinte receberia a visita da polícia em busca de informações sobre seu patrão. na véspera o doutor desaparecera sem deixar sinal
Não havia registro de acidentes de trânsito nem de nenhum tipo vida de cada um precisa da morte para se constituir
Diante da situação surreal testemunhada na casa, o narrador aos poucos se dá conta de que, para existir de fato, necessita, ele mesmo, se apropriar de um dos corpos que encontra. em sua estreia no romance, o jovem carlos de brito e mello lança mão de uma linguagem fragmentada e precisa para imprimir ao livro um andamento trepidante e acelerado
Ironia e humor negro bem medido também compõem esta narrativa inusitada sobre a morte. carlos de brito e mello (belo horizonte, 1974) é mestre em comunicação social e professor universitário
Integra o coletivo xepa, ligado às artes plásticas
Publicou o cadáver ri dos seus despojos (contos) e foi vencedor, em 2008, do prêmio do governo de minas gerais de literatura, na categoria jovem escritor mineiro. de ocorrência policial
Só que ele simplesmente não chegara em casa. e, como se não bastasse, havia um detalhe absurdo: o carro de doutor marcos estava estacionado exatamente onde deveria estar, em sua vaga na garagem do prédio onde morava
O que teria acontecido com o dentista? sobre ele, cecília explicaria a espinosa: sempre foi atencioso e gentil, nunca alterou a voz, nunca reclamou com mau humor de alguma coisa. ele parece irreal