Carnaval no fogo nao é um livro sobre carnaval
Sua açao se passa em todas as épocas do ano e em todos os quinhentos anos da agitada história do rio - da primeira india tupinambá que namorou um pirata francês aos réveillons de copacabana
Ruy castro compoe um vibrante retrato do rio de hoje, cheio de viagens ao passado, para revelar que, mesmo nos períodos de calmaria, havia sempre uma excitaçao no ar - um permanente "carnaval no fogo"
Quem se lembra que, na belle époque carioca, de 1890 a 1914, quando poetas de colarinho duro flertavam com senhoritas de anquinhas na porta da colombo, eclodiram revoltas que quase destruíram a cidade? e quem diria que as calçadas com desenho de ondas em copacabana, famosas pela sensualidade, foram batizadas com o sangue dos "18 do forte" enquanto a poucos metros se construía o copacabana palace? e quem acredita que, mais de cem anos antes das garotas de ipanema, já havia as garotas da rua do ouvidor - as primeiras brasileiras que saíram à rua e aprenderam tudo com as francesas?o rio de janeiro de carnaval no fogo é o rio dos antropófagos que encantaram os intelectuais europeus, dos escravos que se vestiam como os senhores, dos fotógrafos pioneiros que o clicaram como se estivessem num aviao - setenta anos antes de o aviao existir -, da loura nair de teffé e da mulata chiquinha gonzaga, que, juntas, abalaram as estruturas
É também o rio em que os saloes se prolongaram nos botequins, em que um cafezinho tomado em pé na avenida rio branco podia alterar a cotaçao mundial do produto e em que o povo, habituado à própria pele, passou a desfilar quase nu pelas praias e até pelos restaurantes
É ainda o rio das asas-deltas, do fla-flu entre os traficantes e a polícia, do bolinho de aipim e do indestrutível bom humor
Carnaval no fogo é a história dessa fascinante superaçao do povo carioca - até hoje.